Ontem, tomei o mata-bicho, meti-me num machimbombo e fui ver o Tejo.
Precisava de sozinhar-me, como diria o escritor Mia Couto. Não levei comigo nem a minha garina.
Na minha pasta, tinha um pacote de mancarras (adoro alcagoitas!) e um suco de manga para o meu café da tarde, embora faltasse café, pois todos os cafés estavam fechadinhos. Normalmente, bebo um café sem ponta, mas naquela tarde não tomei nenhum.

«Quero saçaricar em liberdade! », gritava. Mas quem me ouvia? Tinha-me sozinhado, ninguém me ouvia.
Os bondes andam vazios, já não há bichas (pera aí?) de turistas esperando pelo número vintchioito
Resolvi comprar uma garrafa de vinho e partilhá-la comigo mesmo. Acabei por me bicar, como é de se esperar. E fiquei a pensar: sou ou estou bêbado? É uma pena as outras línguas não fazerem distinção nenhuma.
Depois, bebi outra gelada, mas já não tinha jingubas para comer.
Porém, tenho esta língua, tão labirinticamente amalucada e tão bela, com a qual me translado de um lado para outro do mundo. E sonho em todos os sotaques. E posso ter em mim todas as pronúncias. Tenho a liberdade de usar a norma que quero, porque esta língua não é a minha pátria, mas é, sim, a minha mátria. Já tinha pátria. Faltava-me uma mátria. Encontrei-a há sete anos e nunca mais a larguei. Todos precisamos de ter uma mátria. E a minha mátria é a língua portuguesa.
Um abraço e até breve!
Matteo Pupillo
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