Falamos todos a mesma língua?

Ontem, tomei o mata-bicho, meti-me num machimbombo e fui ver o Tejo. 

Precisava de sozinhar-me, como diria o escritor Mia Couto. Não levei comigo nem a minha garina. 

Na minha pasta, tinha um pacote de mancarras (adoro alcagoitas!) e um suco de manga para o meu café da tarde, embora faltasse café, pois todos os cafés estavam fechadinhos. Normalmente, bebo um café sem ponta, mas naquela tarde não tomei nenhum. 

5 de maio: dia da Língua Portuguesa

«Quero saçaricar em liberdade! », gritava. Mas quem me ouvia? Tinha-me sozinhado, ninguém me ouvia. 

Os bondes andam vazios, já não há bichas (pera aí?) de turistas esperando pelo número vintchioito

Resolvi comprar uma garrafa de vinho e partilhá-la comigo mesmo. Acabei por me bicar, como é de se esperar. E fiquei a pensar: sou ou estou bêbado? É uma pena as outras línguas não fazerem distinção nenhuma. 

Depois, bebi outra gelada, mas já não tinha jingubas para comer. 

Porém, tenho esta língua, tão labirinticamente amalucada e tão bela, com a qual me translado de um lado para outro do mundo. E sonho em todos os sotaques. E posso ter em mim todas as pronúncias. Tenho a liberdade de usar a norma que quero, porque esta língua não é a minha pátria, mas é, sim, a minha mátria. Já tinha pátria. Faltava-me uma mátria. Encontrei-a há sete anos e nunca mais a larguei. Todos precisamos de ter uma mátria. E a minha mátria é a língua portuguesa. 

Um abraço e até breve!

Matteo Pupillo 

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Publicado por matteopupillo

Matteo Pupillo nascido e criado em Itália, mas vive em Portugal há quatro anos, apesar do seu vaivém ter começado há seis anos. Bacharel em Línguas e Culturas modernas com ênfase no ensino de idiomas a estrangeiros pela Universidade de Bari e mestre em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Trabalha como professor de Português Língua Estrangeira (norma europeia e, de vez em quando, também brasileira) na cidade mais radiante do mundo: Lisboa. É também investigador no âmbito das literaturas portuguesas e tradutor. Nos seus tempos livres, ouve música dos países lusófonos, lê e escreve em português. Fala italiano, português, inglês e espanhol e desenrasca em francês.

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